A representação de Simón Bolívar em jornais brasileiros do XIX: os muitos “cultos à Bolívar”
Marco Magli
graduando em Licenciatura em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Resumo: Este artigo pretende explorar as representações da imagem política de Simón Bolívar em alguns periódicos brasileiros durante o período de sua atuação política e militar, ou seja, durante as décadas de 1810 e 1830. Dessa forma, veremos qual caráter tinha e como se deu a fama de Bolívar no Brasil no começo século XIX. Almeja-se também analisar as particularidades do “culto ao Bolívar” em terras brasileiras, suas motivações, vertentes e empregos.
Palavras-chave: Simón Bolívar, periódicos brasileiros, imprensa, Revolução Burguesa.
- Introdução
Uma figura não muito conhecida pelos brasileiros quanto por seus vizinhos é a de Simón Bolívar. O Libertador, embora existam vários trabalhos acadêmicos que tratem dele, ainda é pouco difundido e notório fora da academia. É muito mais provável que um aluno do Ensino Básico no Brasil conheça melhor algum personagem da Revolução Francesa ou Inglesa do que o Simón Bolívar, ou nem mesmo o conheça.
Contudo, a importância política de Bolívar durante o século XIX, principalmente na América Latina é um fato que pouco pode ser questionado. De acordo com o professor de Relações Internacionais da UFABC, Gilberto Maringoni:
Bolívar é possivelmente o personagem histórico mais complexo e de maior influência no imaginário político continental. Sua obra é colossal. Além de liderar guerras de independência e de exercer influência direta em pelo menos cinco dos atuais países da região – Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia -, ele deixou vastíssima obra escrita, constituída por artigos, cartas e discursos.
A América Espanhola em sua totalidade teve seus respectivos libertadores, muitas vezes criollos que estavam comandando a batalha pela independência de vários territórios coloniais. Por muito tempo no Brasil foi discutido qual foi o Libertador do Brasil, ou como, quando e se ocorreu sua sua Revolução Burguesa.
Este texto não se propõe a qualquer momento fazer uma análise atual da importância simbólica de Bolívar nos governos populares da América Latina, como Cuba, Venezuela ou Bolívia. Tampouco pretende interpretar as decisões políticas ou militares de Bolívar atribuindo a elas qualquer análise política, diplomática ou militar.
O presente artigo busca provocar uma reflexão sobre como Simón Bolívar e os processos revolucionários por ele conduzidos foram retratados nos periódicos brasileiros até a década de 1830. Dessa forma, este texto se resumirá em debater com excertos de jornais do novecentos balizando-se em duas problematizações centrais, apoiadas por um referencial teórico claro. A primeira problemática é pensar como a noção de “culto ao Bolívar”, desenvolvida pelo historiador venezuelano Germán Carrera Damas, pode ser incluída em uma análise sobre periódicos brasileiros do século XIX. Mostrando que a importância da imagem política de Simón Bolívar não foi um típico processo da “invenção da tradição”, como se fez com muitos “heróis nacionais” como Tiradentes no Brasil. A imagem de Bolívar foi sim construída em sua contemporaneidade, ao longo da vida do general, já no XIX assumindo popularidade em diversos periódicos.
O segundo objetivo é demonstrar, ainda dialogando com a tese de Carrera Damas, como o “bolivarianismo” do século XIX foi apropriado por diversos projetos políticos e vertentes ideológicas. Desde o século XIX, não havia somente um projeto de nação que se apoiasse na política alegórica de Bolívar, mas sim muitos projetos, de republicanos ou monarquistas, de conservadores ou progressistas, de regiões mais centrais ou remotas. Hoje, os muitos ideais políticos que são intitulados ou se auto proclamam bolivarianos mostram o presente desta história de mais de 200 anos.
[...] desde a virada do milênio os Estados Unidos percebem problemas de segurança regional gerados pelo desenvolvimento político negativo de países como a Bolívia e a Venezuela, identificando o “populismo radical” como uma ameaça emergente provocada pela crise de democracia na região. As vertentes em que esse neopopulismo se apresenta na América do Sul passam pela forma clássica, do Equador de Rafael Correa, pela ramificação indigenista de Evo Morales na Bolívia, por um estilo conservador e mais liberal no Brasil de Lula, e pelo revolucionário de Hugo Chávez. (SILVA, 2011, p.41)
Assim este artigo discutirá, de maneira breve como, a partir de fontes primárias do século XIX, no caso periódicos, a imagem do Bolívar foi vista nas diversas classes sociais e nos muitos segmentos políticos. Por fim, será apresentada uma análise dos motivos deste “culto ao Bolívar” nos moldes latinoamericanos.
1.1 Contexto brasileiro do período analisado: dicotomia paradoxal
O Brasil, durante o período das Guerras de Independência em que Bolívar participou, teve uma série de momentos políticos. As décadas entre 1810 e 1830 marcou anos de um dinâmica política muito intensa nas terras brasileiras.
Em 1808, a Corte portuguesa veio ao Brasil por conta do Bloqueio Continental de Napoleão. Não apenas a família Real portuguesa veio ao Rio de Janeiro, mas sim toda a Corte portuguesa chegou à cidade tropical que se tornaria então a capital do Império Português. Com isso ocorreram diversas mudanças culturais no Rio de Janeiro e muitas agitações de ordem político-econômicas na América Portuguesa.
Com este evento um fenômeno político dentro das camadas mais ricas da sociedade ocorreu. A polarização dos projetos político-nacionais pode ser representada pelos partidos Português e Brasileiro. O primeiro, formado em vasta parte por funcionários da burocracia portuguesa e comerciantes reinóis ou descendentes de portugueses, contrários à medidas de liberalização econômica que favorecem a Inglaterra como a Abertura dos Portos.
Já o Partido Brasileiro, oriundo da insatisfação advinda da política de recolonização do Brasil exposta pelas Cortes de Lisboa tinha uma proposta política que antagonizava com a dos portugueses no Brasil. Formado principalmente, por membros das aristocracias rurais, também apoiava medidas liberalizantes na economia brasileira, como uma forte pressão pelo federalismo. Em suma, os dois se aproximavam por traduzirem vontades das classes mais abastadas no Brasil e não questionarem as estruturas escravistas e elitistas da sociedade colonial. (PEREIRA; KOSHIBA, 2003) O projeto anti-metropolitano avança e recua neste contexto, caminhando ora de mãos atadas à princípios liberais, ora os desprezando, como mostra Théo Piñeiro:
A luta contra a Metrópole forjara a aliança entre tais grupos, influenciados pelas idéias liberais, porém com uma compreensão distinta de seus pressupostos. As concessões feitas de ambas as partes iriam conformar um ideário simplificado, no qual o liberalismo servirá para organizar os colonos para a luta e a ação política. Aliados em um primeiro momento, aristocráticos e democráticos iriam se separar logo após a Independência, com os últimos sendo afastados das principais ações da vida nacional. Fortalecidos, os aristocráticos promoveram imensa perseguição aos liberais, com a fuga ou a deportação de seus principais líderes. Com isto, pareciam ter conquistado o Império, porém tiveram que se defrontar - e isolados - com um outro grupo, mais forte que o anterior: o português, Iniciando outra fase no processo de emancipação política. (PIÑEIRO, 2010, p. 133)
A Independência do Brasil (1822) e o Primeiro Reinado (1822-1831) marcaram o período em que Simón Bolívar mais conseguiu ganhar notoriedade na América Latina por ser figura importante nos processos independentistas americanos. Uma vez emancipada a nação do Brasil, o desejo político dividiu-se em três direções: a conservadora, a liberal e a liberal radical. A primeira força política pregava uma forte centralização política na estrutura imperial. Os liberais, em oposição à primeira, defendia um movimento descentralizador, com forte influência federalista. Já os liberais radicais defendiam, em geral, uma maior igualdade social, seja por meio do abolicionismo (ainda incipiente), do republicanismo ou até do monarquismo.
Durante estes primeiros anos do século XIX são assim que as forças políticas podem ser agrupadas no Brasil. Claro, está organização é extremamente simples, mas pode ser útil para fins didáticos, e analíticos, no caso deste artigo, por exemplo. Dessa maneira iremos então observar como a imagem de Bolívar foi vista nesta conjuntura política e o que ela significava.
1.2 Contexto internacional: os dois extremos do Atlântico
O Bloqueio Continental de Napoleão foi marcante para toda a Europa do começo do Século XIX. Em Portugal não foi diferente. Para não perder seu bem mais precioso, a América Portugûesa, a corte lusitana foge ao Brasil, abrindo espaço para novos capítulos na história brasileira. (MALERBA, 2006)
A vinda da Corte portuguesa ao Brasil também trouxe impactos na antiga capital do império portugûes: Lisboa. Em 1820, a Revolução Liberal do Porto ganhou espaço em Portugal . De cunho antiabsolutista e parlamentarista, o movimento acabou por convocar as Cortes de Lisboa e exigir o retorno do rei, que ocorre apenas em 1821. Para Boris Fausto a
[...] crise política, causada pela ausência do rei e dos órgãos de governo; crise econômica, resultante em parte da liberdade de comércio de que se beneficiava o Brasil; crise militar, conseqüência da presença de oficiais ingleses nos altos postos do exército e da preterição de oficiais portugueses nas promoções. (FAUSTO, 1996, p.81)
Nesta conjuntura internacional surgem dois debates caros para o tema aqui tratado: a presença da Inglaterra nas Américas e os debates sobre república e parlamento nos dois lados do Atlântico. Sobre a estratégia britânica de ocupação no continente americano é possível analisar uma nota de George Canning, político inglês do começo do século XIX:
Possibilidade de desfechar um golpe de morte nos interêsses comerciais da França, fazendo uma intervenção aberta e decisiva na América Latina, de modo a trazê-la, sob forma de nações cuja independência houvesse sido fomentada por capitães inglêses, para a esfera direta da Grã-Bretanha. (FREITAS, 1958, p.19)
Assim é possível ver como a política internacional refletiu no Brasil de forma direta. Não somente pelo fato da vinda da família real, mas pelos debates políticos, e propostas de sociedade muitas vezes inspirados por modelos europeus republicanos inspirados em ideais iluministas, estes adaptados para cada particularidade material.
2. O culto a Bolívar: uma necessidade histórica; ou um diálogo com Germán Carrera Damas
Sobre o chamado “culto a Bolívar” se pode dizer que ele é uma teoria complexa, que explora não somente o significado desta imagem, bem como sua construção histórico-simbólica. Carrera Damas, primeiro historiador a tratar este tema e cunhar este termo define “Por culto a Bolívar entendemos la compleja formación historicoideológica que ha permitido proyectar los valores de la figura del Héroe sobre todos los aspectos de la vida de un pueblo.” (CARRERA DAMAS, 1969, p.19)
Um excerto que exprime este teor do culto ao Bolívar no brasil foi retirado do primeiro periódico de Ouro Preto chamado “Abelha do Itaculumy”, que durou apenas de 1824 a 1825 mas teve tiragem grande para os padrões da Época.
[...] porém he de esperar que não obstante ganhadas pelos Hespanhoes, jámais se extinguirá o espirito de Independencia que tem creado raizes nos corações dos Peruvianos; especialmente quando Bolívar os está encorajando com a gloria do seu nome, e ajudando-os com todo o genio que tanto tem distinguido não só suas emprezas militares, como tãobem sua política administrativa, por meio da qual estabeleceo a Independencia de Colombia, a quem deo huma Constituição que parece haver sido feito para o garante da união, e a carta de liberdade daquelles Estados confederados. (ABELHA DO ITACULUMY, 1824, p.303-304)
Neste trecho é possível vermos como no Brasil o “culto a Bolívar”, primeiramente, existe. Isso é importante de dizer, pois se o culto a Bolívar, no momento em que ele estava vivo existia no Brasil e ao longo dos anos foi perdendo força, ao contrário de nossos vizinhos, isso mostra como foi apagada a memória independentista e anticolonial do imaginário brasileiro com o tempo. Além disso mostra como afirma Carrera Damas, pelas palavras de Maringoni, que o culto a Bolívar não foi apenas construído após a morte dele, mas durante a sua vida.
Carrera Damas destaca que a admiração despertada por Bolívar em seu tempo e após sua morte não é fruto apenas de laboriosa pregação. Os feitos que liderou repercutiram concretamente na vida de milhões de pessoas. Não sem razão, Bolívar tornou-se objeto de culto[...] (MARINGONI, 2014, s/p)
No pedaço analisado do jornal Abelha do Itaculumy é possível notar também a construção linguística por trás do Libertador Bolívar. Um foco de análise interessante é a utilização do termo “espírito de Independencia”, elevando a emancipação total a um nível espiritual, ou seja, eterno ao Homem. Também pode-se notar a dupla admiração ao Bolívar, não apenas militar, nem somente política, mas ambas.
2.1 Autoproclamação de ditador da Grã-Colômbia e reação brasileira
Bolívar tinha como grande projeto de nação uma república independente e federalista, tal qual a dos Estados Unidos. Durante o século XIX o objetivo do Libertador é justamente livrar as colônias espanholas das mãos metropolitanas e implantar nelas uma república, grande, latino-americana e federalista.
Durante a década de 1820 a Grã-Colômbia se torna uma realidade. Após sucessivas lutas pelas independências de vários Vice-Reinos, como o da Venezuela, Nova Granada, Quito e Guayaquil, A Grã-Colômbia passou a ter mais de 2 500 000 km² e também 2 500 habitantes. Contudo, após inúmero problemas econômicos de ordem interna e externa, Bolívar se viu obrigado a caminhar para um movimento mais centralizador gradualmente. Quando em 11 de agosto de 1828 ele se autoproclama Ditador da Grã-Colômbia, a fim de tentar salvar a República de fragmentar-se.
Nesta parte do artigo iremos analisar dois jornais que estavam em circulação nesta data, com características muito diferentes entre eles. Compararemos duas publicações de novembro de 1828 dos Periódicos “O Farol Paulistano” (SP) e do famoso “Jornal do Commercio” (RJ).
O jornal paulista foi uma das primeiras publicações desta região. Era um jornal liberal, próximo do chamado grupo moderado, carregando consigo um forte apelo anti-despótico e antiabsolutista. Assim, sempre se opôs aos projetos de D. Pedro I e propunha uma monarquia constitucional, já buscando algum espaço para São Paulo no poder político do país.
Columbia - Dizem que Bolivar se proclamou Dictador em Columbia, depois de haver mostrado em um Discurso artificioso a deploravel situaçaõ dos negocios da república. Naõ se sabe, se accaso desejará tomar a denominação de Rei, ou se ficará contente em governar com o modesto titulo de Dictador. (O FAROL PAULISTANO, 1828, p.1)
O que é interessante ser explorado nesta curta nota publicada pelo periódico é em si a pouca atenção que este fato recebeu em relação à outros jornais de posições políticas similares. Outra parte curiosa, é que dentro da pouca importância dada ao país vizinho, o jornal dá muito destaque À denominação que Bolívar escolherá: se Rei ou Dictador. Ora, isto pode parecer fútil para alguma leitura historiográfica, mas o jornal não está discutido um termo apenas, mas sim o projeto da Colômbia. Ou melhor, debatendo se Bolivar irá pender para a construção de uma Monarquia Constitucional, o desejo do jornal muito provavelmente, ou se será uma República.
Já no Rio de Janeiro, a repercussão deste assunto se deu de maneira diferente. De cunho antilusitano, o Jornal do Commercio era um dos mais importantes jornais da capital neste período. Segundo a historiadora Paula da Silva Ramos este jornal pertencia “[...] à classe latifundiária, o periódico declarou, em seu primeiro número, ser exclusivamente dedicado aos “senhores negociantes”, restringindo-se, a princípio, a assuntos mercantis.” (RAMOS, 2015, p. 147)
Sobre a mesma ocasião comentada pelo O Farol Paulistano o jornal carioca publicou uma maior nota.
[...] em razão de mais de 20 Membros da Convenção D’Ocanha se retirarão [...] se dissolveo e deixou Bolivar, Libertador Presidente, reger a seu bel prazer a Republica, com authoridade de Dictador; authoridade a mais absoluta, temível, espontanea, e sem aggravo, perante a qual os direitos e foros se callena [...] Entretanto não duvidamos hum instante a vista dos motivos ponderados na acta, que Columbia, a melhor, mais antiga, e mais enthusiasmada entre as Republicas irmães da America outrora Hespanhola, tenha cahído neste estado de anarquia e dissolução que necessita da mão de um homem genio armado do Poder dictatorial. Deos queira que Bolivar seja este homem! Por qualquer parte que deitamos os olhos achamos novas razões de abençoar o Systema Constitucional, que permite acudir aos males do estado sem recorrer a remedios tão violentos! (JORNAL DO COMMERCIO, 1828, p.1)
Nota-se neste trecho da publicação que a opinião sobre a Colômbia entre os dois jornais difere muito. Enquanto o jornal paulistano está dando pouca ênfase para Bolívar, como figura e evidenciando a crise Colombiana, já o periódico do Rio de Janeiro deixa claro sua posição quanto ao país vizinho e seu libertador. O Jornal do Commercio enaltece a Grã-Colômbia como “a melhor, a mais antiga, e mais enthusiasmada entre as Republicas Irmães” e eleva Bolívar como possível “genio armado”, além de expressar de maneira nítida o interesse em um Sistema Constitucional, não especificando se em uma monarquia ou uma República.
O que é possível observar deste dois jornais é que a imagem construída no Brasil está ligada, não a um republicanismo independentista, como em nossos vizinhos, mas num estágio ainda primário e não amadurecido de luta anti absolutista.
3. Conclusão
Por fim, podemos ver neste texto como alguns poucos exemplos de periódicos nacionais lidaram com a imagem de Bolívar enquanto ele ainda está vivo. Assim conseguimos ver ao mesmo tempo, a diversidade de abordagens e posições sobre a atuação de Bolívar. Contudo há um eixo central que em parte guia o “culto a Bolívar” brasileiro: o antiabsolutismo.
Diferente de outras partes da América, nas quais não havia mais monarquia desde as Independências, o Brasil apresentou situação histórica sui generis dentro da história da América Latina. A independência brasileira deu-se em pacto com Portugal e manteve um rei no Brasil, D. Pedro I. Por isso, este culto não está ligado diretamente a um republicanismo no Brasil, pois ainda havia aqui, mais forte do que em qualquer outro lugar da América do Sul, a discussão sobre a monarquia, seus partidários e opositores. Dessa forma também se pode considerar a fraca lembrança a Bolívar no Brasil atual tendo esse, o antiabsolutismo bolivariano do XIX, como um dos principais fatores.
Dessa forma, o culto a Bolívar encaixa-se no Brasil também como necessidade histórica. Aproveitando a explicação de Carrera Damas para o caso venezuelano:
Dicho culto ha constituido, propiedad de términos, una necesidad histórica, sin que por ello deba entenderse más de lo que el concepto de necesidad pueda expresar en el orden histórico. Su función ha sido la de disimular un fracaso y retardar un desengaño, y la ha cumplido satisfactoriamente hasta ahora. (CARRERA DAMAS, 1869, p. 52)
Destarte, o “culto a Bolívar” no Brasil dá-se como necessidade histórica também, não de prometer um futuro ao povo e transformar um imaginário popular em imaginário estatal. Mas sim este culto toma forma no sentido de atuar contra um problema mais latente para as classes dominantes brasileiras do XIX, o absolutismo, não a monarquia, mas a centralização exacerbada de poder. Esta centralização tiraria a possibilidade de poder das recentes elites locais, em muitos casos, e estas, por seus meios de produção apontam para a crítica ao centralismo a partir do símbolo de Bolívar.
4. Fontes
ABELHA DO ITACULUMY. Ouro Preto: 1824, n° 76 , vol.V , 05/07/1824; segunda-feira , p.303-304.
JORNAL DO COMMERCIO. Rio de Janeiro: 1828 , n° 337 , vol.V , 19/11/1828; quarta-feira , p.1.
O FAROL PAULISTANO. São Paulo: 1828 , n° 167 , 28/11/1828; quarta-feira , p.1.
5. Referências
BALLAROTTI, C. R. A Construção do mito de Tiradentes: de mártir republicano a herói cívico na atualidade. Antíteses, vol. 2, n. 3, jan.-jun. de 2009, pp. 201-225, dispnível em: <http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/antiteses>, acesso em 17 mai 2018
CARRERA DAMAS, Germán. El culto a Bolívar: esbozo para un estudio de la historia de las ideas en Venezuela. 7. ed. Caracas: Editorial Alfa, 2013.
DICIONÁRIO HISTÓRICO BRASILEIRO / CPDOC / FGV. Jornal do Commercio. Disponível em: <http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/jornal-do-comercio> Acesso em: 17 mai. 2018
FAUSTO, Boris. HISTÓRIA DO BRASIL: História do Brasil cobre um período de mais de quinhentos anos, desde as raízes da colonização portuguesa até nossos dias. São Paulo: Edusp, 1996
FREITAS, C. de, George Canning e o Brasil. Vol. I, São Paulo, 1958.
HOBSBAWM, E.; RANGER, T. (Org.). A invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
MALERBA, Jurandir (org.). A Independência brasileira: novas dimensões. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.
MARINGONI, G. Maldito Bolivariano!. Carta Capital, 8 nov 2014 disponível em <https://www.cartacapital.com.br/politica/maldito-bolivariano-5234.html> Acesso em: 17 mai. 2018
MAXWELL, K. 1985. A devassa dá devassa. Rio de Janeiro, Paz e Terra.
PEREIRA, D. M. F ; KOSHIBA, L. História do Brasil: no contexto da História Ocidental. São Paulo: Atual, 2003.
PIÑEIRO, Théo Lobarinhas. Os projetos liberais no Brasil Império. Passagens. Revista Internacional de História Política e Cultura Jurídica, Rio de Janeiro: vol. 2 no. 4, maio-agosto 2010, p. 130-152.
RAMOS, Paula da Silva. O Jornal do Commercio e as representações sobre a Argentina na crise do Brasil Império (1870- 1889). Faces da História, [S.l.], v. 2, n. 1, p. 113-158, ago. 2017. ISSN 2358-3878. Disponível em: <http://seer.assis.unesp.br/index.php/facesdahistoria/article/view/196>. Acesso em: 17 jun. 2018.
SILVA, Eron Pacheco da. A influência do Bolivarianismo na América do Sul: possíveis reflexos para o Brasil no campo militar do poder nacional. Rio de Janeiro, 2011
SILVA, M. G. ; JORGE, Vladimir Lombardo . Bolivarianismo e luta hegemônica no Brasil: (re)significações do conceito durante o governo do Partido dos Trabalhadores (2003-2015).. In: 39º Encontro Nacional da ANPOCS, 2015, Caxambu. Anais do 39º Encontro Anual da Anpocs,, 2015.
Nenhum comentário:
Postar um comentário