PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS
Fichamento de “Sinais, Raízes de um paradigma indiciário”, de Carlo Ginzburg
Nome: Marco Magli (RA00180650)
Profa. Dra. Carla Longhi Reis
CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA
DISCIPLINA DE TENDÊNCIAS DA HISTORIOGRAFIA CONTEMPORÂNEA
SÃO PAULO – SP
2017
O capítulo “Sinais, Raízes de um paradigma indiciário”, de Carlo Ginzburg levanta importantes questões metodológicas para a prática da historiografia. Ele apresenta como o historiador deve se portar diante de sinais apresentados por documentos.
Logo no começo deste capítulo Ginzburg deixa clara sua intenção: “Nestas páginas tentarei mostrar como, por volta do final do século XIX, emergiu silenciosamente no âmbito das ciências humanas um modelo epistemológico (caso prefira paradigma) ao qual até agora não se prestou suficiente atenção. A análise desse paradigma, amplamente operante de fato, ainda que não teorizado explicitamente, talvez possa ajudar a sair dos incômodos da contraposição entre “racionalismo” e “irracionalismo”. (GINZBURG, 1989, p. 143).
Ou autor então apresenta a forma com a qual apresentará seu conteúdo. O capítulo será dividido em 3 partes, cada uma tratando de vieses diferentes. Primeiramente o autor trata da experiência de Morelli por se passar por um critico russo de arte, em pelo século XIX, que propunha uma nova visão sobre os quadros antigos.
O método proposto por Morelli consistia em ““distinguir os originais das cópias. Para tanto, porém (dizia Morelli), é preciso não se basear, como normalmente se faz, em características mais vistosas, portanto mais facilmente imitáveis, dos quadros...Pelo contrário, é necessário examinar os pormenores mais negligenciáveis, e menos influenciados pelas características da escola a que o pintor pertencia: os lóbulos das orelhas, as unhas, as formas dos dedos das mãos e dos pés. Dessa maneira, Morelli descobriu, e escrupulosamente catalogou, a forma de orelha própria de Botticelli, a de Cosme Tura e assim por diante: Traços presentes nos originais, mas não nas cópias.” (GINZBURG, 1989, p. 144)
Na primeira parte do texto ele compara os métodos investigativos de Freud, Morelli e Sherlock Holmes. Para o autor “[...] nos três casos, entrevê-se o modelo da semiótica médica: a disciplina que permite diagnosticar as doenças inacessíveis à observação direta na base de sintomas superficiais, às vezes irrelevantes aos olhos do leigo(...) Mas não se trata simplesmente de coincidências biográficas. O final do século XIX – mais precisamente, na década de 1870-80 – começou a se firmar nas ciências humanas um paradigma indiciário baseado justamente na semiótica. Mas as suas raízes eram muito antigas” (GINZBURG, 1989, p. 150-151)
Na segunda parte do capítulo, Ginzburg faz uma espécie de cronologia da “investigação racional”, começando pela transmissão de conhecimento dos caçadores-coletores, pela Antiguidade até a ciência do século XIX.
Ginzburg elabora sobre a questão das particularidades e individualidades no método historiográfico. Para ele a trajetória da ciência moderna em relação ao individual tem duas opções que começam a se delimitar no século XIX: “sacrificar o conhecimento do elemento individual à generalização... ou procurar elaborar, talvez às apalpadelas, um paradigma diferente, fundado no conhecimento científico do individual.” (GINZBURG, 1989, p. 163)
A partir do final do capítulo o autor começa a desenvolver o paradigma indiciário, que pode ser visto nas citações a seguir:
“Uma coisa é analisar pegadas, rastros, fezes (animais ou humanas), catarros, córneas, pulsações, campos de neve ou cinzas de cigarro; outra é analisar escritas, pinturas ou discursos. A distinção entre natureza (inanimada ou viva) e cultura é fundamental [...] ora Morelli propusera-se buscar, no interior de um sistema de signos culturalmente codificados como o pictórico, os signos que tinham a involuntariedade dos sintomas (e da maior parte dos indícios). Não só: nesses signos involuntários, nas miudezas materiais ... Morelli reconhecia o sinal mais certo da individualidade artística [...] Dessa maneira, ele retomava (talvez indiretamente) e desenvolvia os princípios do método formulados havia tanto tempo pelo seu predecessor Giulio Mancini. Que aqueles princípios viessem a amadurecer depois de tanto tempo não era casual. Justamente então vinha surgindo uma tendência cada vez mais nítida de um controle qualitativo e minucioso sobre a sociedade por parte do poder estatal, que utilizava uma noção de indivíduo baseada, também ela, em traços mínimos e involuntários.” (GINZBURG, 1989, p. 171)
Destarte, o autor retoma sua tese. A micro história pode parecer à primeira vista fragmentária, mas a intenção de Ginzburg ao propor este método é justamente não entrar na dicotomia, indivíduo/totalidade, mas sim compreendê-los como complementares, percebendo as contradições da totalidade em recortes. Ele explicita isso no excerto: “Se as pretensões de conhecimento sistemático mostram-se cada vez mais como veleidades, nem por isso a ideia de totalidade deve ser abandonada. Pelo contrário: a existência de uma profunda conexão que explica os fenômenos superficiais é reforçada no próprio momento em que se afirma que um conhecimento direto de tal conexão não é possível. Se a realidade é opaca, existem zonas privilegiadas – sinais, indícios – que permitem decifrá-la.” (GINZBURG, 1989, p. 177)
Bibliografia:
GINZBURG, Carlo. “Sinais, Raízes de um paradigma indiciário” IN Mitos, emblemas e sinais, São Paulo: Editora Schwatz Ldta, 1989, pp. 221.
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