PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS
Fichamento de:
“Era dos extremos”, Cap. 10 – Revolução Social (1945-1960), de Eric Hobsbawm
Marco Magli (RA00180650)
e
Cláudio Gláuber do Nascimento Filho (RA00188059)
Profa. Dra. Carla Reis Longhi
CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA
TENDÊNCIAS DA HISTORIOGRAFIA CONTEMPORÂNEA – SÉCULO XX
SÃO PAULO – SP
2017
Sobre a Era de Ouro: “Porque as mudanças dele decorrentes para todo o planeta foram tão profundas quanto irreversíveis. E ainda estão ocorrendo.” (HOBSBAWM, 1995, p. 18)
I
“Quando enfrentam o que seu passado não as preparou para enfrentar, as pessoas tateiam em busca de palavras para dar nome ao desconhecido, mesmo quando não podem defini-lo nem entendê-lo.” (HOBSBAWM, 1995, p. 282)
“Assim a transformação mais sensacional, rápida e universal na história humana entrou na consciência das mentes pensadoras que a viveram. Essa transformação é o tema do presente capítulo.” (HOBSBAWM, 1995, p. 283)
“A novidade dessa transformação está tanto em sua extraordinária rapidez quanto em sua universalidade. Para eles (países mais desenvolvidos), a revolução da sociedade global significou uma aceleração ou intensificação de movimento a que já se achavam acostumados em princípio.” (HOBSBAWM, 1995, p. 283)
“Em muitos aspectos, os que viveram de fato essas transformações na hora não captaram toda a sua extensão. [...] Eles não pretendiam mudar seu estilo de vida para sempre, mesmo que acabassem por fazê-lo. São os que os vêem de fora, revisitando periodicamente os cenários de tais transformações, que reconhecem quanta coisa mudou.” (HOBSBAWM, 1995, p. 283-4)
“A mudança social mais impressionante e de mais longo alcance da segunda metade deste século, e que nos isola para sempre do mundo do passado, é a morte do campesinato.” (HOBSBAWM, 1995, p. 284) Sofre grandes quedas em 20, 30 anos.
“Só três regiões do globo permaneceram essencialmente dominadas por aldeias e campos: a África subsaariana, o sul e o sudeste da Ásia continental e a China. [...] Essas regiões de dominação camponesa ainda representavam reconhecidamente metade da raça humana no fim do nosso período. Contudo, mesmo eles já desmoronavam pelas bordas sob as pressões do desenvolvimento econômico. [...] A agricultura, praticada sobretudo por mulheres, era o lado visível de uma economia que na verdade dependia em grande parte das remessas da mão-de-obra masculina migrante para as cidades e minas brancas no sul.” (HOBSBAWM, 1995, p. 286)
“Como vimos (capitulo 9), os países industriais desenvolvidos, [...] também se transformaram nos grandes produtores agrícolas para o mercado mundial, e fizeram isso enquanto reduziam sua população agrícola a uma porcentagem pequena. [...] Isso foi conseguido graças a uma extraordinária explosão de produtividade per capita, de capital intensivo, promovida pelos agricultores. O aspecto imediato mais visível foi a expressiva quantidade de maquinário que o agricultor em países ricos e desenvolvidos tinha agora à sua disposição. [...] Menos visíveis, mas igualmente significativas, foram as realizações cada vez mais impressionantes da química agrícola, criação seletiva e biotecnologia.” (HOBSBAWM, 1995, p. 286-7)
“Nas regiões pobres do mundo, a revolução agrícola não esteve ausente, embora fosse mais irregular. [...] Na melhor das hipóteses, eram encorajados (Segundo e terceiro mundo) a concentrar-se em safras especializadas para o mercado do mundo desenvolvido, enquanto seus camponeses, [...] continuavam ceifando e arando à maneira antiga, de mão-de-obra intensiva.” (HOBSBAWM, 1995, p. 287)
“Quando o campo se esvazia, as cidades se enchem. O mundo da segunda metade do século XX tornou-se urbanizado como jamais fora. Em meados da década de 1980, 42% de sua população era urbana, e, não fosse o peso das enormes populações rurais da China e da Índia, [...] teria sido maioria (Population, 1984, p. 214). [...] De fato, de longe as mais gigantescas aglomerações urbanas no fim da década de 1980 eram encontradas no Terceiro Mundo. [...] Pois [...] o mundo desenvolvido [...] suas cidades gigantescas se dissolviam. Haviam atingido o auge do início do século XX, antes que a fuga para os subúrbios e comunidades-satélite fora das cidades se acelerasse, e os velhos centros urbanos se tornassem cascas ocas à noite.” (HOBSBAWM, 1995, p. 288)
“A partir da década de 1960, [...] simultaneamente (à revolução no transporte público), a descentralização se espalhou, à medida que a maioria das comunidades ou complexos suburbanos componentes dessas cidades desenvolvia seus próprios serviços.” (HOBSBAWM, 1995, p. 289)
“Por outro lado, a cidade do Terceiro Mundo, embora também ligada por sistemas de transporte (em geral obsoletos e inadequados) [...] não podia deixar de ser dispersa e desestruturada. [...] Na verdade as conurbações (junção de duas ou mais cidades) do Velho e do Novo Mundo eram cada vez mais reuniões de comunidades nominalmente – ou, no Ocidente, muitas vezes formalmente – autônomas, embora no rico Ocidente, pelo menos nos arredores, contivessem muito mais espaços verdes que nos superpovoados Leste e Sul.” (HOBSBAWM, 1995, p. 289)
II
“Quase tão dramático quanto o declínio e queda do campesinato, e muito mais universal, foi o crescimento de ocupações que exigiam educação secundaria e superior.” (HOBSBAWM, 1995, p. 289)
“E a alfabetização fez um progresso sensacional. [...] Contudo, se a alfabetização em massa era geral ou não, a demanda de vagas na educação secundária e, sobretudo superior multiplicou-se em ritmo extraordinário. E o mesmo se deu com o número de pessoas que a tinham tido ou estavam tendo.” (HOBSBAWM, 1995, p. 290)
“Tudo isso era não apenas novo, mas bastante súbito. [...] Na verdade, só na década de 1960 se tornou inegável que os estudantes tinham constituído, social e politicamente, uma força muito mais importante do que jamais haviam sido, pois em 1968 as explosões de radicalismo estudantil em todo o mundo falaram mais alto que as estatísticas.” (HOBSBAWM, 1995, p. 290)
“À medida que os problemas dos sistemas socialistas aumentavam nas décadas de 1970 e 1980, eles ficavam mais para trás do Ocidente. [...] O extraordinário crescimento da educação superior, [...] deveu-se à pressão do consumidor, a que os governos socialistas não estavam preparados para responder. Era óbvio para planejadores e governos que a economia moderna exigia muito mais administradores, professores e especialistas técnicos que no passado.” (HOBSBAWM, 1995, p. 291)
“Na verdade, as famílias corriam a pôr os filhos na educação superior sempre que tinham a opção e a oportunidade, porque esta era de longe a melhor chance de conquistar para eles uma renda melhor e, acima de tudo, um status social superior. [...] A maior parte dos estudantes, claro, vinha de famílias em melhores condições que a maioria [...] mas não necessariamente ricas. Muitas vezes os sacrifícios que os pais faziam eram reais. [...] O grande boom mundial tornou possível para incontáveis famílias modestas – empregados de escritórios e funcionários públicos, lojistas e pequenos comerciantes, fazendeiros e, no Ocidente, até prósperos operários qualificados – pagar estudo em tempo integral para seus filhos. [...] À medida que rapazes e moças recebiam educação superior, os governos [...] multiplicavam o número de novos estabelecimentos para recebê-los, sobretudo na década de 1970, quando o número das universidades no mundo quase dobrou. E, claro, as colônias recém-independentes, que se multiplicaram na década de 1960, faziam de suas próprias instituições de educação superior um símbolo de independência, assim como uma bandeira, uma empresa aérea ou um exército.” (HOBSBAWM, 1995, p. 291-2)
“Essas massas de rapazes e moças e seus professores, [...] constituíam um novo fator na cultura e na política. Eram transnacionais, movimentando-se e comunicando idéias e experiências através de fronteiras com facilidade e rapidez, e provavelmente estavam mais à vontade com a tecnologia das comunicações que os governos. Como revelou a década de 1960, eram não apenas radicais e explosivas, mas singularmente eficazes na expressão nacional, e mesmo internacional, de descontentamento político e social. [...] E se houve um momento, nos anos de ouro posteriores a 1945, que correspondeu ao levante mundial simultâneo com que os revolucionários sonhavam após 1917, foi sem dúvida 1968, quando os estudantes se rebelaram desde os EUA e o México, no Ocidente, até a Polônia, Tchecoslováquia e Iugoslávia, socialistas, em grande parte estimulados pela extraordinária irrupção de maio de 1968, em Paris, epicentro de um levante estudantil continental. Estava longe de ser a revolução, embora fosse consideravelmente mais que o “psicodrama” ou “teatro de rua” descartado por observadores velhos e não simpatizantes como Raymond Aron.” (HOBSBAWM, 1995, p. 292-3)
“O motivo pelo qual 1968 (com seu prolongamento em 1969 e 1970) não foi a revolução, e jamais parece que seria ou poderia ser, era que apenas os estudantes, por mais numerosos e mobilizáveis que fossem, não podiam fazê-la sozinhos. A efetividade política deles estava em sua capacidade de agir como sinais e detonadores para grupos maiores mas que se inflamavam com menos facilidade. A partir da década de 1960, tiveram alguns êxitos nessa atuação. Provocaram enormes ondas de greves operarias na França e Itália em 1968, mas, após vinte anos de melhoria sem paralelos para os assalariados em economias de pleno emprego, revolução era a última coisa em que as massas proletárias pensavam. Só na década de 1980, [...] as rebeliões estudantis pareceram realizar seu potencial de detonar a revolução, ou pelo menos forçar governos a tratá-los como um sério perigo público, massacrando-os em grande escala.” (HOBSBAWM, 1995, p. 293)
“Por que só o movimento desse novo grupo social de estudantes, entre os novos e velhos atores da Era de Ouro, optou pelo radicalismo de esquerda? [...] o novo corpo estudantil era, por definição, também um grupo de jovens, [...] Os grupos jovens, ainda não assentados na idade adulta estabelecida, são o lócus tradicional da alegria, motim e desordem, [...] e as paixões revolucionárias são mais comuns aos dezoito anos que aos 35. [...] (Existia um interesse pessoal, exemplo:) Os estudantes mexicanos logo aprenderam que: a) o aparelho do estado e do partido recrutava seus quadros essencialmente nas universidades; b) quanto mais revolucionários fossem os estudantes, maiores as chances de que lhes oferecessem bons empregos após a formatura.” (HOBSBAWM, 1995, p. 293-4)
“No entanto, isso não explica por que grupos de jovens obviamente, a caminho de um futuro muito melhor que o de seus pais, ou, de qualquer modo, que o da maioria dos não estudantes, se sentiriam – com raras exceções – atraídos pelo radicalismo político. Na verdade, um elevado número deles provavelmente não sentia essa atração, preferindo concentrar-se na obtenção dos diplomas que lhes garantiriam um futuro; no entanto, eram menos notados que o grupo menor [...] dos politicamente ativos, sobretudo quando estes dominavam as áreas visíveis da vida universitária, com manifestações públicas.” (HOBSBAWM, 1995, p. 294-5)
“O número de estudantes de humanidades multiplicou-se por quase 3,5, e o de ciências sociais, por quatro. [...] À medida que uma crescente proporção da população em idade escolar tinha oportunidade de estudar [...] ir para a universidade deixou de ser um privilégio especial que já constituía uma recompensa em si, e as limitações que isso impunha a jovens adultos (geralmente sem dinheiro) deixavam-nos mais ressentidos. O ressentimento contra um tipo de autoridade, a universidade, ampliava-se facilmente para o ressentimento contra qualquer autoridade e, portanto (no Ocidente), inclinava os estudantes para a esquerda. Assim, não surpreende de modo algum que a década de 1960 se tenha tornado a década da agitação estudantil par excellence.” (HOBSBAWM, 1995, p. 295)
“Num sentido mais geral, [...] essa nova massa de estudantes ficava, por assim dizer, numa posição meio incômoda em relação ao resto da sociedade. Ao contrário de outras classes ou agrupamentos sociais mais velhos e estabelecidos, eles não tinham, nela, um lugar determinado nem um padrão de relações. (Pelo seu tamanho gigante) [...] (Já os pais comparavam e ficavam satisfeitos) As insatisfações dos jovens não eram amortecidas pela consciência de ter vivido épocas de impressionante melhoria, muito melhores do que seus pais algum dia esperaram ver. Os novos tempos eram os únicos que os rapazes e moças que iam para a universidade conheciam. Ao contrário, eles sentiam que tudo podia ser diferente e melhor, mesmo não sabendo exatamente como. [...] A explosão de agitação estudantil irrompeu no auge mesmo do grande boom global, porque era dirigida, mesmo que baga e cegamente, contra o que eles viam como característico daquela sociedade, não contra o fato de que a velha sociedade talvez não houvesse melhorado o bastante. O efeito mais imediato da rebelião estudantil européia foi uma onde de greves operárias por maiores salários e melhores condições de trabalho.” (HOBSBAWM, 1995, p. 295-6)
III
Na parte 3 deste capítulo, Hobsbawm se volta à análise da classe operária industrial e seu desenvolvimento, também em diversas partes do mundo, a partir do pós-Segunda Guerra. Inicialmente o auto já expõe uma diferença desta categoria em comparação ao campesinato e os estudantes: “Ao contrário das populações do campo e universitárias, as classes operárias industriais não sofreram terremotos demográficos até que, na década de 1980, começaram a declinar muito visivelmente.” (HOBSBAWM, 1995, p. 296)
Apesar do desenvolvimento das forças produtivas e da desorganização e crises dos partidos e movimentos da classe operária dos anos 1950 à 1970, “a impressão de que [...] a classe operária industrial estava morrendo era estatisticamente errada, pelo menos em escala global. [...] no fim dos anos dourados havia sem dúvida mais operários no mundo, em números absolutos, e quase com certeza maior proporção de empregados em manufatura na população global do que jamais houvera antes.”. Para o autor, “Só nas décadas de 1980 e 1990 podemos detectar uma grande contração da classe operária.”. (HOBSBAWM, 1995, p. 296-7)
Essse declínio da indústria não se dá em termos quantitativos, mas principalmente qualitativos e que “as velhas industrias do século XIX e XX declinaram [...] A indústria siderúrgica americana agora empregava menos pessoas que as lanchonetes McDonald’s. Mesmo quando não desapareceram essas indústrias tradicionais mudaram-se de velhos para novos países industriais”. (HOBSBAWM, 1995, p. 297) Como imagem ilustrativa dessa “velha indústria”, Hobsbawm coloca que “[...] a cidade ou região dominada por uma só indústria, caso de Detroit e Turim na área automobilística, a classe operária unida pela segregação residencial e o local de trabalho numa unidade de muitas cabeças pareciam ter sido características da era industrial clássica.” (HOBSBAWM, 1995, p. 298)
Desse modo, um desemprego, no início dos anos 1980, que só se compara ao dá década de 1940 nos últimos anos foi recriado pois, “as classes operárias acabaram [...] tornando-se vítimas das novas tecnologias; sobretudo os homens e mulheres não qualificados [...] que podiam ser substituídos por maquinário automatizado. [...] a indústria não mais se expandiu no velho ritmo [...]”. (HOBSBAWM, 1995, p. 298)
A crise nos anos 1980 não era “de classe, mas de consciência. No fim do século XIX, as próprias populações heterogêneas e misturadas que ganhavam a vida nos países desenvolvidos vendendo seu trabalho braçal por salários aprenderam a ver-se como uma única casse trabalhadora [...]”. (HOBSBAWM, 1995, p. 299)
Os anos de ouro minaram o aspecto coletivo que a classe operaria dos países desenvolvidos mais antigos da Europa. Este modo de vida atingiu seu age no final da Segunda Guerra e marcadamente “os operários tinham uma vida diferente dos outros [...] O que dava aos partidos operários sua força original era a justificada convicção dos trabalhadores de que pessoas como eles não podiam melhorar sua sorte pela ação individual, mas só pela ação coletiva. [...] Mas “nós” dominava “eu” não apenas por motivos instrumentais, e sim porque [...] a vida operária tinha de ser em grande parte pública [...] da partida de futebol ao comício ao passeio no feriado, a vida era experimentada, naquilo que visava ao prazer, en masse.” Assim, o autor conclui que “A prosperidade e a privatização destruíram o que a pobreza e a coletividade na vida pública haviam construído” (HOBSBAWM, 1995, p. 300)
Para o autor os operários não perderam sua característica de grupo, mas algum tipo de riqueza estava agora ao alcance da maioria como ele ilustra no seguinte excerto: “O pleno emprego e uma sociedade de autêntico consumo de massa transformou totalmente a vida dos operários nos países desenvolvidos. [...] a diferença entre um dono de Fusca e de um Mercedes era muito menor que entre o dono de qualquer carro e o dono de carro nenhum [...]” (HOBSBAWM, 1995, p. 301)
Ao longo dos anos 1970, com uma política de Bem-Estar Social implantada nos países desenvolvidos, somado a fatores como um aumento da desigualdade interna da classe trabalhadora promovida por uma crivagem da qualificação. Além da nova onda migratória massiva que trouxe um velho sentimento nacionalista racista dentro de certas frações da classe operária em alguns países europeus, embora muitas etnias e povos se mantivessem quase que fieis a uma atividade econômica específica, não provocando tanta concorrência.
Assim o autor conclui esta parte expondo que a luta de classes, como interesses antagônicos da classe dominada e dominante, não era mais tão universal no que diz respeito Às intenções da classe trabalhadora, ou melhor das classes trabalhadoras, expondo assim uma fragmentação de causas dentro da causa operária. Destarte: “[...] no período em que os partidos e movimentos trabalhistas clássicos se formaram todos os setores operários podiam com razão supor que as mesmas políticas, estratégias e mudanças institucionais beneficiariam cada um deles, isso não era automaticamente válido [...]”.(HOBSBAWM, 1995, p. 304)
IV
Na segunda metade do século XX, uma grande mudança que afeou em especial a classe operária foi o aumento da presença da mulher em certos setores da economia. Além do setor industrial, principalmente “nos enclaves de desenvolvimento manufatureiro no Terceiro Mundo” (HOBSBAWM, 1995, p. 305), o setor de serviços também atraia este público como mão-de-obra. Para o autor “Na prática, a distinção entre mulheres na manufatura e no setor terciário não era significativa, pois o groso delas em ambas ocupava posições subalternas [...]” (HOBSBAWM, 1995, p. 305)
Além desse setor na produção material, as mulheres entravam na produção imaterial por meio de um acesso nunca antes visto aos cursos superiores, ilustrados pelos números que mostram que “após a Segunda Guerra Mundial, elas constituíam entre 15% e 20% de todos os estudantes [...] em 1980 metade ou mais da metade de todos os estudantes eram mulheres nos Eua, Canada e em seis países socialistas [...] e em apenas quatro países europeus elas constituíam então menos de 40%.” (HOBSBAWM, 1995, p. 305)
Para Hobsbawm, esses fatores formaram “o plano de fundo [...] para o impressionante reflorescimento dos movimentos feministas a partir da década d 1960” (HOBSBAWM, 1995, p. 305) O voto feminino foi conseguido que praticamente toda parte do mundo até a década de 1970, mesmo assim “essas mudanças [...] não tiveram qualquer repercussão notável sobre a situação imediata das mulheres [...]”.(HOBSBAWM, 1995, p. 306) Embora marcantes essas mudanças, o movimento feminista mudou na revolução social “não apenas a natureza das atividades da mulher na sociedade, mas também os papéis desempenhados por elas [...]”, assim tornando-se uma “força política importante [...]”(HOBSBAWM, 1995, p. 306)
O autor faz uma balança entre o que realmente mudou e o que pode ser um indicador de melhorias nas vidas das mulheres pelo mundo. Para ele era claro um maior lugar ocupado pelas mulheres na política institucional, contudo “não se possa isso de forma alguma como indicador da situação das mulheres [...]” (HOBSBAWM, 1995, p. 307). A Índia, Paquistão e Filipinas tiveram mulheres chefe de estado e nem por isso as condições das mulheres nesses países deixaram de ser lastimáveis.
O salto qualitativo, entretanto, se dá pois “antes da Segunda Guerra Mundial, a sucessão de qualquer mulher à liderança de qualquer república, em quaisquer circunstâncias teria sido encarada como politicamente impensável.” (HOBSBAWM, 1995, p. 307)
Porém o autor sabe que não pode comparar igualmente mulheres em diferentes localidades do globo, para ele “faz pouco sentido generalizar globalmente sobre o papel das mulheres na esfera pública [pois] as mulheres emancipadas em países dependentes ocidentalizados estavam muito mais favoravelmente situadas que suas irmãs, digamos, no Extremo Oriente não socialista” (HOBSBAWM, 1995, p. 308-9)
Quanto ao socialismo Hobsbawm diz que a situação das mulheres nesses países é paradoxal, que embora “[...]o comunismo como ideologia se empenhara apaixonadamente na igualdade e libertação feminina em todos os sentidos [...]” (HOBSBAWM, 1995, p. 307). Contudo, no caso da URSS, nos anos 1960 as mulheres que já estavam incluídas no mundo do trabalho assalariado, ficavam muitas vezes sobrecarregadas com a dupla jornada do trabalho da família.
Ao fim, o autor explica como muitas das demandas das feministas, principalmente a partir dos anos 1950 e vindas dos EUA, local marcante da luta pela emancipação da mulher, eram atreladas às liberdades típicas de uma classe média. Muitas dessas mulheres, mesmo trabalhando em setores de escritório em grande número a partir dos anos 1980 ainda tinha uma luta feminista ligada às relações domesticas e direitos civis, por exemplo. Para o autor, “[...] o feminismo norte americano demorou a abordar os interesses vitais da operária, como a licença-maternidade.” (HOBSBAWM, 1995, p. 311) Assim ele conclui, que mesmo tardando a reivindicar melhorias da vida da mulher trabalhadora, “[...] esse feminismo específico da classe média [...] sucitava questões que interessavam a todas [...] uma dramática transformação das convenções de comportamento social e pessoal.” (HOBSBAWM, 1995, p. 312-13)
Bibliografia:
Hobsbawm, Eric. Era dos Extremos, Comp. Da Letras, 1995, Parte II, cap. 10
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