Nome: Marco Magli
RA 00180650
Turma: HNLA - 6
Profa. Dra. Marijane Lisboa
ESTUDOS TEMÁTICOS: GLOBALIZAÇÃO E DESAFIOS À NOVA ORDEM I
Resenha crítica do capítulo “Correntes do Ecologismo” da obra “O ecologismo dos pobres: conflitos ambientais e linguagens de valoração” de Joan Martínez Alier
O capítulo inicial do livro “O ecologismo dos pobres: conflitos ambientais e linguagens de valoração” de Joan Martínez Alier é uma ótima fonte introdutória para o estudo de três importantes correntes do ecologismo, principalmente no contexto Ocidental do século XX e XXI. Nesta resenha crítica pretendo fazer apontamentos sobre pontos positivos e negativos do texto, bem como ao quais não se introduzem nesses dois extremos, mas são elementos interessantes para a reflexão e discussão.
Primeiramente, vale ressaltar que o autor coloca no final d introdução uma preocupação genuína de uma ecologia “Para além dos debates no espaço universitário [...]” (ALIER, 1997, p.20). Isso é fundamental para a discussão, pois retoma toda uma noção, muitas vezes esquecida hoje por parte da academia da função social do conhecimento científico. Essa extrapolação de barreiras acadêmicas pode ser vista como resultado de um recente processo dos últimos vinte anos de amadurecimento dos conceitos e categorias analíticas em torno da economia ecológica e da ecologia política.
Outro aspecto interessante do texto é uma distinção simple e precisa de alguns termos recorrentes nos debates presentes na sociedade sobre ecologia. Por exemplo, a distinção entre ambientalismo e ecologismo, feita ainda que em nota de rodapé, mas explicando o porquê de usar um ou outro termo ao longo do livro.
O capítulo em si se inicia com a afirmação de que “[o] movimento ecologista ou ambientalista [...] surgido numa sociedade de redes [...]” (ALIER, 1997, p.21). Essa afirmação somada ao conteúdo do capítulo em si traz algumas problematizações. O ecologismo é encarado como de tradição do século XX, Ocidental e muito fortemente centrado nos Estados Unidos da América e seus intelectuais, isso pois, são nesses temas e referências que o autor referencia-se.
Contudo vale a pena lembrar que valores do ecologismo não são tradições do século XX. Claro, que neste período este conceito adquire uma padronização maior por conta do aumento das relações globalizadas, bem como um aspecto metodológico-científico e social não antes visto. Só que não se pode perder do horizonte que boa parte das mais diversas populações que temos registro sempre tiveram noções que hoje seriam incluídas no rol do ecologismo, intrinsecamente ligadas à sobrevivência do grupo, como técnicas de manejo e pesca, por vezes simbolizadas por cosmovisões e rituais religiosos. Sociedades essas que não eram apenas europeias.
Sobre as correntes do ecologismo debatidas no texto pode-se fazer algumas análises. O chamado “culto ao silvestre” guarda consigo noções importantes e bonitas de preservação. Contudo, muitas dessas noções carregam em si um idealismo ingênuo que parece negar os processos dinâmicos da fase atual do capitalismo mundial. Por exemplo, entender a tarefa de manter espaços “[...] fora da influência do mercado.” (ALIER, 1997, p.22) como algo factível no capitalismo, que cada vez mostra como grandes empresas mapeiam todo e qualquer espaço do globo à procura de lucro.
Outro aspecto interessante de se retirar dessa primeira escola de pensamento ecológico apresentada pelo autor é a valorização da sacralidade da natureza feita por povos originários de todo o mundo. A vida desses povos depende da terra, muitas vezes, e a preocupação com este tema deve ser norte para todo estudante de ciências humanas e sociais, no mínimo.
A segunda escola trazida parece ser mais crítica e atualizada, em vista da velocidade padrões de reprodução do capital que se assumem no século XIX, do que o culto ao silvestre. Retratado como “o evangelho da auto suficiência”, essa corrente se preocupa com noções mais presentes na realidade moderna de centros urbanos e do processo de urbanização de cidades antigamentes rurais dos últimos anos. Ela concebe a economia em sua totalidade, ou seja, de maneira precisa entender que a economia é o estudo sobre a produção de todo e qualquer bem e a produção de todo e qualquer bem em si. Noção essa de economia nunca compreendida pelos acadêmicos anti economicistas, que tratam a cultura e a sociedade como algo à parte da economia, mas não partes mutualísticas.
Novamente, porém, essa corrente cai na mesma ingenuidade da primeira em balizar-se em Kuznets e interpretar o desenvolvimento sustentável como um “win-win”, ou quase uma conciliação de classes por meio da ecologia, uma terceira via. Assim, mais uma vez a lógica de uma crítica estrutural do sistema econômico fica só na superfície, mas de fato a teoria por trás dessa escola parte de premissas social-democratas, muito passíveis da contestação de sua efetividade em países de capitalismo periférico nos tempos atuais.
A terceira e última vertente do ambientalismo apresentada é nomeada por Alier de “o ecologismo dos pobres”. Essa escola é sim mais abertamente engajada com as mazelas sociais e sua causalidades no mundo capitalista atual, não separando o sujeito da produção, mas nem a produção da reprodução do sujeito. Nessa ideia de ecologismo surgem pautas mais atuais, como o monopólio de sementes e fertilizantes e seus respectivos royalties, a biopirataria, os movimentos sociais camponeses e rurais e a periferia do capitalismo global.
Entretanto, há no texto uma afirmação de que “as novas tecnologias não representam necessariamente uma solução para o conflito entre a economia e o meio ambiente.” (ALIER, 1997, p.36) Essa noção não está em todo equivocada. DE fato, o desenvolvimento das forças produtivas não é obrigatoriamente do interesse da maioria das pessoas, da classe trabalhadora. Mas não há um conflito entre a economia e o meio ambiente. Há um conflito entre a humanidade, em que a sociedade e o meio ambiente são meios e fins de dominação e exploração do corpo e da força de trabalho daqueles que nada ou pouco tem pelos grandes capitalistas.
Assim, a crítica mais profunda ao texto, além da noções eurocêntricas apresentadas no primeiro parágrafo desta resenha, é a perspectiva reformista das três correntes. O autor, não só poderia, mas deveria ter apresentado vertentes também do ecossocialismo, muito bem fundamentado desde os anos 1970 e 80. Assim, mesmo a escola com críticas sistêmicas mais radicais não tem como horizonte a luta pela superação de um modo de produção que é grande parte da causa dos problemas socio-ambientais do planeta. Destarte, uma estratégia que poderia ser trabalhada no texto para evitar parte dessas críticas seria simplesmente trabalhar também o conceito de ecossocialismo.
Referência bibliográfica:
ALIER, Juan Martinez. O ecologismo dos pobres. Raega - O Espaço Geográfico em Análise, [S.l.], v. 1, dez. 1997. ISSN 2177-2738. Disponível em: <https://revistas.ufpr.br/raega/article/view/17910>. Acesso em: 08 nov. 2018. doi:http://dx.doi.org/10.5380/raega.v1i0.17910.
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